

Memória
Maurice Halbwachs ao abordar a questão da memória coletiva, enfatiza a força dos diferentes pontos de referência, que estruturam nossa memória que a inserem na memória da coletividade, na qual estamos inseridos. Entre eles incluem-se os monumentos, o patrimônio arquitetônico e seu estilo, as paisagens, as datas comemorativas, personagens históricos, as tradições e costumes, o folclore, a música e tradições alimentares. Esses pontos de referências que nos acompanham a vida toda, reforçam os sentimentos de pertencimento. Incluo também, a fontes imagéticas: quadros, fotografias, filmes, desenhos e outros como as memórias literárias e documentais. No entanto, chamo a atenção para que nossa preocupação ao selecionar referências de memória, estas não sejam apenas voltadas às classes sociais de maior poder aquisitivo mas, também sejam lembrados os excluídos , os humildes, as mulheres, enfim pessoas, que também se dedicaram na construção das memórias coletivas das cidades de União da Vitória e Porto União. As fontes documentais escritas , imagéticas e orais nos dão um suporte para entender a história da cidade, basta estarmos atentos às análises simbólicas que cada uma retrata.
O historiador inglês, Raphael Samuel escreveu que: “ a história local [...] dá ao historiador uma ideia imediata do passado. Ele a encontra dobrando a esquina e descendo a rua. Ele pode ouvir os ecos no mercado, ler o seu grafite nas paredes, seguir suas pegadas nos campos”. A fala de Samuel pretende nos mostrar que a história de um lugar pode ser contada de diferentes formas. Faz-se necessário que estejamos atentos para o traçado das ruas, a denominação dadas a elas, seus monumentos, a paisagem, suas praças e outras construções. O que isso tudo tem a nos dizer? Os trabalhos de resgate de memória coletiva se fortalecem, por meio de consultas e documentos, nos arquivos, jornais antigos, e pela narrativa dos idosos, por meio da história oral. Essas ações estabelecem enriquecedores diálogos com o passado. A fotografia também é memória e, com ela, se confunde. A palavra de Bóris Kossoy sobre a fotografia é muito clara:
O fragmento da realidade gravado na fotografia representa o congelamento do gesto e da paisagem, e portanto a perpetuação de um momento, em outras palavras. Da memória: memória do indivíduo , da comunidade, dos costumes, do fato social, da paisagem urbana, na natureza. A cena registrada na imagem não se repetirá jamais. O momento vivido, congelado pelo registro fotográfico, é irreversível.
Pretende-se que este espaço, no site da Alvi, seja utilizado com fotos de antigos acontecimentos, de documentos do passado, sempre com explicações, textos sobre memórias locais, narrativas literárias sobre a cidade e outros registros não citados aqui.
Leni Trentin Gaspari- Cadeira n. 19
Patronesse: Edy Santos da Costa
Memórias
João Darcy Ruggeri
Cadeira 12 da Alvi
Apenas como uma modesta lembrança e o precípuo desejo de homenagear aos Professores que dão vida à ALVI, com o perdão pela minha ousadia, entendo devesse acrescentar ao meu modesto Currículo na Academia, assim:
A - Quando Seminarista, por quatro anos consecutivos, fui " professor" de Latim para os Anos anteriores ao que eu estava cursando;
B- aqui em Curitiba, cheguei ser examinador de Classe- Segundo Grau; e
C - Consultor( ou revisor) de Processos Judiciais findos, na busca de possíveis nulidades, erros jurídicos, etc...etc!.
Nunca, sequer em pensamento, ousei me rotular como PROFESSOR, por saber quão difícil e sublime é SER PROFESSOR!
Assim, numa modesta retrospectiva, analisando esse modesto trecho da minha existência, peço vênia aos Confrades e Confreiras, concluindo, para citar dois Provérbios:
1°- "Vivemos na Escola da Vida onde diariamente aprendemos novas liçoes, mas, principalmente quando estamos corrigindo aquelas do dia anterior!"
Hoje escrevi o 370° Provérbio para o 11° Livro de " Eles & Eu, assim:
" Na Escola da Vida somos Alunos e Professores, haja vista que até a ignorância ensina e aperfeiçoa!"
Sub Censura.
Livro: Eles & Eu, João Darcy Ruggeri
Memória e Preservação na história das cidades
Memórias de mulheres carroceiras
Leni Trentin Gaspari
Nos documentos oficiais do Arquivo Municipal de União da Vitória encontrei o Livro de Termos de Exames de Condutores de Vehículos de 1931-1941, no qual constatei que, na década de 30 do século 20, foram concedidas 35 autorizações para conduzir carroças a pessoas de União da Vitória, Porto União, Cruz Machado e Colônia Amazonas. No documento mencionado anteriormente, consta que das 35 autorizações , trinta e quatro foram para homens e uma para mulher. Vejamos a pioneira nessa conquista, na transcrição integral abaixo e grafia original do Termo de Exame de Habilitação:
"Aos dois dias do mês de Setembro de mil e novecentos e trinta e um, nesta cidade de União da Victoria, Estado do Paraná no local designado pelo Snr. Dr. Prefeito Municipal e perante o Snr. José Serafini, Fiscal Municipal, comigo Evaldo Burmeister, Secretario Interno da Prefeitura, compareceu a senhora Dª Dorothea Scheibe, allemã, com 46 anos de idade, casada, filha de Nicolau Scheibe, residente nesta cidade, declarando que queria se habilitar na forma da lei para condusir carroça. A qual foi examinada e julgada apta pelo que se lhe expediu a competente carteira de habilitação. Do que para constar foi lavrado este termo que vae assignado. José Serafini."
Apenas uma mulher tinha autorização nesse período, mas é certo que, muitas eram condutoras de carroças, principalmente as mulheres imigrantes, que vinham do interior trazendo seus produtos rurais para vender: feijão, verduras, requeijão, manteiga, ovos, pinhão milho, abóboras e até lenhas. Algumas já tinham freguesia certa em determinadas residências, mas a maioria se dirigia aos armazéns de secos e molhados.
Faz parte das minhas lembranças o transitar dessas mulheres notáveis, na década de 50, com suas carrocinhas, principalmente as sextas-feiras quando chegavam ao Armazém do meu progenitor, no Bairro Rio D’Areia, para estabelecer comércio : vender os produtos rurais e comprar o que não havia na colônia , tais como querosene, sal, tecidos, café, armarinhos e açúcar, entre outras coisas. A postura dinâmica dessas mulheres que enfrentavam esse desafio além de todo o trabalho nas chácaras, mostra que elas partilhavam, ao lado dos homens, das atribuições cotidianas deixando, porém, transparecer certa independência.
Carlos Guerios (2014) ,pesquisador e estudioso sobre a imigração sírio -libanesa na região, conta que as mulheres dessa etnia cuidavam da alimentação, da roupa, das doenças e remédios, além do árduo trabalho da casa. Quando necessário, faziam costuras e vendas de doces e alimentos, para atender a pedidos dos clientes. “Muitas delas sofrendo a dor da viuvez, também pegavam malas e carroças e saiam mascatear pelo interior e arredores das cidades gêmeas.” O pesquisador relata ainda que, para ir aos locais mais distantes serviam-se do trem e, nos lugares mais próximos, a carroça “[...] levavam baús com: tesouras, facas, agulhas, dedais, fios, meias, giletes, elásticos, tecidos, botões, tamancos, canivetes, suspensórios, cintas, isqueiros, penicos, colares, pulseiras, talheres entre outras coisas.”
As carroças foram, portanto, recurso necessário para o ganha-pão de muitas mulheres das nossas cidades, seja mascateando no interior como as sírio-libanesas seja entregando leite nas residências como as alemãs, ou trazendo produtos coloniais como as polonesas, ucranianas e italianas, que realizavam essas funções com altivez e segurança, pelo bem-estar das suas famílias, mostrando que, de sexo frágil não tinham nada.
Obs: Texto extraído do artigo BREVE ESTUDO SOBRE CARROCEIROS E CARROCEIRAS NAS “GÊMEAS DO IGUAÇU”. Da mesma autora, na Revista da Alvi, n.07,2014